quarta-feira, 30 de abril de 2014
Assassinato do torturador lembra que a repressão não acabou
A parolagem da mídia e das autoridades sobre a morte do tenente-coronel
reformado Paulo Malhães nos remete diretamente aos tempos da ditadura.
E não apenas porque a vítima era um notório vilão, torturador confesso,
violador assumido dos direitos humanos, figura de proa na máquina da
repressão militar e importante testemunha na Comissão Nacional da
Verdade.
A repentina volta ao passado dá-se em parte porque reencontramos os
mesmos subterfúgios, manhas e evasivas dos tempos em que a linha-dura
fazia o que bem entendia e o resto do país se contentava com as migalhas
dos releases policiais.
Compreende-se o cuidado do governo, mas ninguém está clamando pela
revisão ou revogação da Lei da Anistia. O que chama a atenção e assusta é
a cobertura morna, burocrática, de um caso que as autoridades
(inclusive federais) não poderiam tratar com tanta displicência e a
mídia com tanta ligeireza.
Compreende-se que família e amigos desejassem apressar as providências
funerárias. Mas o lado pessoal não pode sobrepor-se aos aspectos legais,
morais e humanitários. A morte de um brutamonte não encerra os efeitos
das brutalidades. Só comprova que a brutalização está viva. Ativa.
Página aberta
As dúvidas e suspeitas que envolvem o personagem e a sua eliminação não
admitem tamanha desatenção e rapidez. A divulgação da guia de
sepultamento atendia ao desejo da família de enterrar o corpo, mas
acabou criando um clima de “caso encerrado” com a menção a um edema
pulmonar, isquemia do miocárdio e miocardia-hipertrófica. Acontece que
esta última era pré-existente, as duas primeiras ocorrências podem ter
sido causadas por um estresse muito grande (asfixia, por exemplo).
Na segunda-feira (28/4), no quinto dia depois do assassinato, a
curiosidade dos jornalões parecia plenamente satisfeita. Ninguém cobrou o
laudo local e cadavérico, nem a lerdeza da Polícia Civil do Rio a quem o
caso foi encaminhado.
E exceção vai por conta do valente O Dia,
do Rio de Janeiro, que em reportagem de Juliana Dal Piva, publicou
detalhada entrevista com a viúva Cristina Malhães (a última mulher do
militar) onde revela importantes dados sobre a ação por ela
testemunhada: o casal foi rendido à luz do dia por três bandidos que
estavam com as armas da própria coleção de Malhães. Durante 10 horas
ficou presa enquanto os criminosos faziam o serviço. Depois foi ameaçada
de morte (ver “Paulo Malhães foi rendido com suas armas”).
A hipótese inicial de latrocínio só foi
descartada na tarde da segunda-feira quando se revelou que afinal a
Polícia Federal entrara na investigação e examinaria os computadores do
militar. Certamente porque o governo estava incomodado com a cobrança da
Comissão de Direitos Humanos da ONU anunciada horas antes.
A ditadura não é uma página virada, nem se encerra com as rememorações sobre os seus primeiros 50 anos.
Alberto Dines é jornalista e editor-chefe do programa de TV Observatório da Imprensa.
Assinar:
Postar comentários
(Atom)
Postagens mais visitadas
-
Cidade devassada pelo descaso enxerga no projeto político do empresário oportunidade de sair em definitivo do limbo do abandono a partir des...
-
População de Paço do Lumiar aprova Linha Metropolitana Aprovada por praticamente 100% dos usuários, a Linha Expressa que integra Paço...
-
Feliz dia das Mulheres! Às mulheres do Maranhão, do Brasil e do Mundo, nossa sincera homenagem: “Em matéria de mulher, há um tipo ...
-
Morre no Rio a atriz e empresária teatral Tereza Rachel Por Paulo Virgílio - Repórter da Agência A atriz e empresária teatral Terez...
-
Carla se prepara para mostrar a 'xereca' em revista Carla Verde está aproveitando ao máximo os minutos de fama que a suposta co...
-
Sargento da PM foi morto a tiros na Matinha quando tentava deixar ração a animais. Um sargento da Policia Militar do Maranhão foi m...
-
Ode Triste para Amores Inacabados, de Fernando Atallaia Fernando Atallaia é músico, compositor, jornalista e um jovem e belo poeta maranh...
-
Criança fica toda deformada ao ser medicada em posto de Saúde em Chapadinha A Srª Adriana da Silva moradora do Bairro Areal, em Chapadi...
-
DE ILHA DO AMOR À ILHA DO TERROR Nove assassinatos no final de semana em São Luís O final de semana foi mais uma vez violento na Re...
Pesquisar em ANB
Nº de visitas
Central de Atendimento
FAÇA PARTE DA EQUIPE DA AGÊNCIA DE NOTÍCIAS BALUARTE
Denúncias, Sugestões, Pautas e Reclamações: agencia.baluarte@hotmail.com
atallaia.baluarte@hotmail.com
Sua participação é imprescindível!
Denúncias, Sugestões, Pautas e Reclamações: agencia.baluarte@hotmail.com
atallaia.baluarte@hotmail.com
Sua participação é imprescindível!
0 comentários:
Postar um comentário