segunda-feira, 28 de julho de 2014
AS VAIAS

Por João de Deus Vieira Barros


Sempre achei as vaias simpáticas. Não sei porque, mas vaia para mim é uma espécie de carinho às avessas. Não, necessariamente, um anti-carinho. Talvez mesmo um ante carinho. Tem um caráter altamente pedagógico. E é a mais democrática, leve e sincera de todas as formas de protestos. Assim como os aplausos, como reconhecimento de um sucesso. Da mesma forma que há aplausos falsos, condescendentes ou simplesmente por educação, há também vaias verdadeiras, cruéis e por falta de educação. Enfim, nenhuma vaia ou aplauso pode ser julgado fora do seu contexto.

Aí entendemos porque as vaias, acho mesmo que nem foram vaias, mas xingamentos. Grotescos e bruscos xingamentos. Palavras de baixo calão. Que ressoaram na Arena Corinthians, - (Acho o substantivo adjetivado horrendo, lembra o lugar onde os gladiadores lutavam até a morte) -, chocaram tanto o país e parece que o mundo. Os gladiadores estavam não no espaço da luta, mas nas arquibancadas. De um lado, uma única mulher lutadora, que possui uma história de enfrentamento, de luta, que já foi presa e torturada pela Ditadura Militar e que, pelo capricho dos deuses e do ex-presidente Lula, tornou-se a primeira mulher a ser presidente do Brasil. Do outro lado, milhares de pessoas de alto poder aquisitivo, artistas, estrelas – e um ou outro felizardo que conseguiu furar o cerco dos privilegiados.

Interessante perceber como o embate se dá tão somente, a nível do simbólico: não é o torcedor contra a presidenta, mas uma classe específica contra um estilo de governo. Pelo menos é isso que os textos que li até agora falaram. Diz-se que aquelas pessoas que desrespeitaram Dilma, na verdade, não se conformam com o fato de os menos favorecidos hoje terem acesso aos mesmos benefícios que os mais abastados, do tipo, andar de avião, fazer faculdade, ter plano de saúde e por aí a fora. Exagero à parte, pois está muito longe de todos os brasileiros terem acessos aos bens de consumo e serviços que o sistema oferece – para isso basta ver crianças, adolescentes e idosos vendendo coisas nos faróis. Mas, reconheçamos: nos últimos três governos o país avançou no campo do social sim. O acesso à moradia e ao ensino superior ou pelo menos a um diploma de nível superior cresceu. Em São José de Ribamar, por exemplo, hoje perdemos a conta de quantas pessoas já possuem nível superior. Em 1992 quando retornei de São Paulo eu era um dos três ou quatro moradores com curso superior e o único com mestrado no Município; e em 1996, o único filho da terra Doutor – o que parece se manter até hoje. Atualmente já perdemos a conta do número de pessoas com curso superior, de estudantes universitários e de futuros universitários. O nível econômico da população melhorou. Casas foram reformadas, novas construídas e muitos comércios e novos serviços surgiram nos últimos 10 anos.

Eu comentava outro dia, olhando fotos antigas de moradores de Ribamar que ainda eram crianças, uns quinze anos atrás, como eles  apresentavam aspectos de subnutrição e hoje seus filhos pequenos já não apresentam mais esse aspecto.

Coloquei no Face: “Eu não gosto de Copa do Mundo, nem no Brasil nem em outra parte. Também não acho que fazer copa no Brasil seja um erro porque o pais tem outras prioridades. Bobagem, isso não é nada diante do desvio de verbas públicas no país todo há décadas. Com copa ou sem copa o Brasil é uma anedota.”

Agora se eu fosse Dilma. Ah, se eu fosse a Dilma! Eu ia discursar sim na final da Copa, sendo ou não o Brasil finalista. Mesmo que fosse vaiada e xingada novamente. Se isso acontecesse, estaria confirmada a falta de educação dessa pseudo elite brasileira. E se eu fosse aplaudida o desastre seria ainda maior, pois essa elite mostraria que além de mal educada é também hipócrita. O ideal seria que ela discursasse e a plateia se mantivesse em silêncio do começo ao fim. Aí sim, o jogo terminaria empatado.

O silêncio pode valer mais que mil palavrões.
João de Deus Vieira Barros é professor universitário-UFMA e Doutor em Educação. Além de cronista e articulista é também ator, poeta e músico. Mora em São José de Ribamar.


Nota do editor:  o presente artigo retrata o episódio das vaias a presidenta Dilma por ocasião da Copa do Mundo. Publicamos hoje por entender que o articulista reforça aspectos importantes dessa expressão popular aquém circunstâncias, mantendo assim a atualidade do texto.

Um comentário:

  1. um homem de bem e da arte de Ribamar parabéns professor vc é 10
    denis aqui da sede

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