sábado, 2 de novembro de 2013
Jornalismo de transeuntes
Por Cláudio de Moura Castro

Entram em greve os funcionários de hospitais do Estado de Minas Gerais! Obviamente, é notícia para a imprensa. Entrevistam-se grevistas e sindicalistas, com queixas dos salários aviltantes, das condições de trabalho, das promessas feitas, da ausência de reajustes nos últimos dois anos, etc. Depois falam os pacientes que tiveram suas cirurgias adiadas ou, depois de longa espera, não foram atendidos. Chega, então, a vez dos administradores dos hospitais. E, de quebra, o que pensa o incauto que vem passando pela rua. Tudo é razoavelmente apresentado. Mas isso é bom jornalismo?

Em princípio, há dois destinatários para essa notícia. O primeiro são os interessados diretos em saber como evolui o confronto, o que há de novo. O segundo é o grande público, precisando tomar conhecimento do que acontece no seu entorno.

Se estivéssemos na Somália, uma sociedade reduzida ao mais primitivo nível de governabilidade, o natural é que os dois lados se digladiassem e, por conta própria, encontrassem a solução. Se tivessem de matar uns aos outros, o que fazer? É a lógica do sistema. A sociedade seria mera espectadora.

Mas é diferente numa sociedade democrática. Não evapora o embate entre as partes, é óbvio. Mas entra em cena um elemento novo e fundamental, algo que podemos chamar de “opinião pública” – embora seja mais complicado que isso. Essa visão da sociedade sobre o bem comum ou o interesse coletivo é fundamental para lançar as âncoras que permitem mediar o conflito. A sociedade “acha” que esse trabalho precisa ser mais bem remunerado – ou não. Ou acha que é inaceitável uma greve de pessoas tão críticas para a saúde coletiva – ou não. Ou aceitaria arcar com mais impostos para dar aumentos a esses funcionários – ou não.

Argumentos maduros

Uma sociedade democrática destila posições sobre grandes temas e vai formando consensos à medida que novos se vão sucedendo. Embora o Estado tenha seu espaço de manobra, numa democracia, precisa dessas percepções e desses valores, para que possa melhor legislar e encaminhar a solução dos conflitos. O Estado deve refletir em suas ações o que percebe ser a visão do bem comum, compartilhada pela sociedade.

É alimentado com tais percepções que vai intervir no caso. Se o governante interpretar mal o que se passa na cabeça dos membros da sociedade, não será reeleito. Apesar das imperfeições dessa mecânica, democracia é isso. Contrasta com versões mais tecnocráticas de governo, nas quais os administradores têm mais latitude para usar seus próprios valores e julgamentos.

Se o conflito for resolvido apenas como resultado do choque de forças entre as partes, nada impede que a solução se distancie do interesse da sociedade. O governo pode ceder demais, criando um sistema de saúde financeiramente inaceitável. Ou se cria um confronto violento, com cicatrizes difíceis de sarar. Por isso o governo deve desempatar os impasses, considerando o peso da opinião da sociedade, pois, indiretamente, esta é também parte interessada. E é assim que deve ser.

Mas para que seja assim é preciso que a sociedade entenda o que está acontecendo. E a fonte principal de informação é a imprensa, seja ela em papel, na nuvem, no rádio ou na TV.

Uma coisa é noticiar um ladrão preso em flagrante. A vítima relata o roubo. O ladrão confessa. Não chega a haver visões discrepantes. Outra é uma greve ou qualquer confrontação. No caso, há três lados, cada um puxando a brasa para sua sardinha. Houve promessas de aumento?




Cláudio de Moura Castro é jornalista e colaborador do portal Observatório da Imprensa.

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