sábado, 7 de fevereiro de 2015

Especialistas denunciam grave contaminação ambiental na maior mina de ouro do país

Exploração do ouro leva cidade a um índice de câncer acima da média 

Maíra Gomes
Belo Horizonte
A maior mina de ouro do Brasil está situada em Paracatu, na região noroeste de Minas Gerais, onde vivem 80 mil pessoas. Desde 1987, a transnacional canadense Kinross Gold Corporation retira cerca de 17 toneladas de ouro por ano de uma mina a céu aberto nos limites do município. Cientistas, biólogos e ambientalistas denunciam um grave problema de contaminação ambiental e a intoxicação lenta da população. “A mineradora está acabando com Paracatu. Está contaminando o ar, as águas e a população. O índice de câncer na cidade está acima da média”, denuncia João Paulo da Silva Couto, da Cáritas Regional Paracatu. 
“A mineradora está acabando com Paracatu. Está contaminando o ar, as águas e a população. O índice de câncer na cidade está acima da média”, denuncia João Paulo da Silva Couto, da Cáritas Regional Paracatu. 
O Hospital de Câncer de Barretos, cidade localizada a mais de 550 km de Paracatu, é a principal referência no tratamento de câncer para os moradores. O número de casos é tão grande que o município conta com uma casa de apoio para abrigar familiares e pessoas em tratamento. Em 2012, pelo menos 500 paracatuenses eram tratados lá. João Paulo garante que o número de doentes tem aumentado. Ele afirma que também é alto o índice de doenças respiratórias, principalmente em crianças. 
Influências
João Paulo da Silva Couto explica que a mineradora é muito forte politicamente. “Tinha um promotor aqui que deu dez condicionantes para que ela continuasse a exploração de ouro. Pouco depois, o promotor foi transferido daqui”, diz. 
Além disso, ele afirma que a mineração é presença forte na economia local, não apenas por meio de empregos diretos e indiretos, mas também no fornecimento de serviços e compras de insumos e equipamentos. “Tudo isso gera um silêncio na cidade e acaba não tendo enfrentamento no município”, lamenta.
O ex-deputado estadual Almir Paraca (PT) critica ainda a compensação financeira do ouro no novo Código da Mineração. Os royalties cobrados são de apenas 1% sobre o faturamento líquido da mineradora. Desses, 65% ficam no município, 25% no estado e 15% são federais. “É uma miséria, não dá para fazer compensação ambiental e muito menos o fomento ao desenvolvimento da cidade”, diz. 
Presente na poeira do ouro, arsênio causa intoxicação
O cientista Sergio Ulhoa Dani nasceu e cresceu em Paracatu e hoje mora na Alemanha, onde é médico. Há muitos anos ele estuda o caso e explica que o responsável pelas doenças é um material conhecido como arsênio, presente na poeira oriunda da mineração de ouro. 
Em artigo, Sérgio explica que o arsênio é parte das rochas onde se encontra o ouro e o material é liberado com a exploração. “O arsênio é um dos agentes cancerígenos mais potentes e persistentes. É absorvido via oral ou respiratória e literalmente gruda nos ossos e mata de câncer e de várias outras doenças”, descreve. 
Em um ponto no Córrego Rico, riacho que atravessa a cidade, o arsênio atingiu uma concentração 190 vezes maior que a estipulada pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente e 744 vezes maior que a concentração média natural verificada nos rios e córregos da região. Ele aponta ainda que a poeira que se respira em Paracatu tem concentrações de arsênio até 140 vezes mais altas que a concentração acima da qual o veneno começa a causar danos à saúde humana.A mineradora Kinross apresentou em 2013 uma pesquisa afirmando que “não existe qualquer tipo de evidência de contaminação ambiental ou da população de Paracatu, por arsênio”.  (MG)

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