segunda-feira, 21 de novembro de 2016
É proibido desperdiçar afetos

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Por José Luiz Oliveira de Almeida
Há pessoas que – a gente percebe, no primeiro contato – vivem amarguradas, de mal com a vida, com sérias dificuldades para compartilhar os seus sentimentos, muitas das quais deixam logo transparecer que não são felizes. Essas não aprenderam a lição que a vida ensina e que pode ser traduzida na frase de Machado de Assis, que tomo de empréstimo como inspiração para o titulo dessas reflexões, segundo o qual  na vida “não vale a pena desperdiçar afetos” ou no sentido de que “a moeda do coração não se deve nunca reduzir a trocos miúdos nem despender em quinquilharias” (Helena)


Tenho procurado, com algum sucesso – por isso sou feliz, imagino – não desperdiçar o meu afeto, a minha consideração, o meu respeito e o meu carinho em face das pessoas que fazem parte do meu mundo, que estão ligadas a mim pelos mais estreitos laços de amizade, amor e fraternidade, que vivem, enfim, no meu mundo, muito próximas, achegadamente, compartilhando comigo os mais inspirados e reveladores sentimentos.


Todas as minhas horas, mesmo as expendidas com o trabalho, são dedicadas, prioritariamente, às pessoas para as quais dedico a minha afeição, pois é com elas que me realizo e é em razão delas – e por elas – que a minha existência se justifica, pois somente elas – as pessoas que amo e considero verdadeiramente e que sei que me amam com a mesma intensidade – são capazes de me fazer feliz, definitivamente, pois o seu amor e a sua dedicação são incondicionais, sujeitos a trovões e tempestades.


Não dá pra viver, definitivamente, sem a companhia das pessoas com as quais partilho as minhas angústias, as minhas vitórias e, com muito mais razão, as minhas derrotas, a partir do compartilhamento dos meus afetos, como uma premente necessidade.
 

E, se não fosse assim, penso, a vida, pelo menos para mim, não teria sentido. Só faz sentido viver para mim se tiver com quem distribuir e compartilhar, no mesmo passo, os meus afetos, ou seja, a quem externar as minhas mais efusivas manifestações de apego e carinho, a quem demonstrar, com ações positivas, o quanto sublimo a convivência fraterna e amiga com as pessoas que amo.


Eu acredito, definitivamente, no amor verdadeiro, na convivência fraterna entre irmãos e entre amigos – falo de amigos verdadeiros, claro -, ante a certeza de que só a partir desse sentimento e dessa convivência solidária e compartilhada podemos construir uma sociedade mais humana, menos egoísta, mais fraterna e amiga; tenho apostado nisso, pois não creio que se construa uma sociedade fraterna e amiga vivendo a obsessão da matéria ou volúpia do querer mais, sem medir as consequências das ambições desmedidas, sempre ressabiados com as relações que dimanam dos interesses meramente materiais.


Por pensar e agir assim é que tenho usado esse espaço para transmitir mensagens voltadas para sublimação da família e da solidariedade entre os homens, para, no mesmo passo, condenar os que insistem em olhar o mundo por um espelho, na equivocada esperança de visualizar apenas a sua imagem refletida, numa abominável, condenável postura egocêntrica e narcísica que nada constrói de positivo.


Compreendo, com a sanidade que me resta, que viver a vida é um exercício permanente de trocas, de mútua solidariedade, de concessões, de muita compreensão e de pouco egoísmo, afinal ninguém se basta por si só.


Quando falo em trocas, advirto, no mesmo passo, que é preciso ter limite no exercício do escambo. Não se troca a honra por poder. Não se deve ceder ou aquiescer, sem pudor, sem discernimento e sem limites. Não se troca a dignidade do cargo por favores ou benefícios indecorosos. Não se mercadejam decisões, quando se tem como principal labor dar a cada um o que é seu.


Tenho vivido a vida valorizando as coisas simples.  É preciso, sim, viver a vida valorizando as coisas simples. É preciso se imunizar em face das facilidades que o exercício do poder proporcionam, porque os que vivem a volúpia do poder e o que ele tem de encantador, dificilmente deixará de desperdiçar os seus afetos.

É preciso, ademais, muita cautela em face da esnobação, da exibição que decorre do exercício poder, da ilusão de estar podendo, da vaidade que a muitos aniquila, da ilusão de uma conta bancária recheada, pois não são poucos os que, tomados por essas tentações, esqueceram que não se troca a moeda do coração por quinquilharias.


Os que só pensam em poder e em ostentação, descurando-se dos afetos, mais dia, menos dias – quando mais inebriados estiverem em face dos que lhes prestam reverência, por pura conveniência, em face do poder que abre portas e que facilita as ações obsequiosas e interesseiras – poderão viver a experiência do personagem principal de O Último Condenado, de Victor Hugo, que, desesperado em face do cárcere e ante a iminência da execução, dirigiu-se a Deus pedindo-lhe piedade, rogando-lhe que lhe fosse enviado aos menos um passarinho que, pousado à beira do telhado, pudesse aplacar-lhe a dor com o seu chilreado, ou, noutro cenário, quando apenas limitou-se a implorar por perdão, para que, livre da guilhotina, lhe fosse permitido viver a vida para ver o sol.


Para encerrar essas breves reflexões  sou levado, quase que inapelavelmente, inexoravelmente à pieguice, só para ressaltar, conquanto desnecessário, que somos muitos os que, tomados pela ambição, premidos pela exiguidade do tempo, pela correria do dia a dia, pela pressa que o mundo impõe, pela busca incessante e necessária de meios de sobrevivência, não se dão conta da beleza do sol e do chilrear de um pássaro, coisas que parecem simples e desimportantes, mas que, diante de um infortúnio, ganham um alcance  difícil de se dimensionar.



José Luiz Oliveira de Almeida é desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi Juiz de Direito da 7ª Vara Criminal e Promotor de Justiça. Também lecionou na Universidade Federal do Maranhão e na Escola da Magistratura do mesmo estado, tendo optado, há alguns anos, pela dedicação exclusiva ao Poder Judiciário.

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