domingo, 16 de dezembro de 2012



POESIA BRASILEIRA



Leia na íntegra o poema ‘’Deportação’’ da obra inédita Ode Triste para Amores Inacabados de autoria do escritor, poeta e ensaísta ribamarense Fernando Atallaia



Deportação




Como esquecer a fronteira desesperada

Como esquecê-la? 

Havia mais fragilidades nas mãos de Heloísa que nos olhos da primeira dama

Outro território outra palavra

Aquele hemisfério feito de paisagens sem estradas

Decadência nas reentrâncias elegância nas imagens.


Como alojar-se sem decifrar os labirintos existentes?

Hímen nas entranhas da fêmea irrompendo rosas no crepúsculo de ontem

Nas manhãs de abril um sêmen em abrolhos cava a morada dos amantes

Os amantes que se partem a cada despedida   

Sangro rupturas maledicentes?

Como os jantares que buscam sempre a hipocrisia

A felicidade passa ao largo dos banquetes previsíveis

Como suportar?

Eu me fui
Fui-me

Estou em um país longínquo perdido na memória de antigas meretrizes

Guardado em um coração à delicadeza dos acasos

Sigo, contudo. Através (...)  

Tenho o encanto das moças de janelas  

O sono raso dos homens frios sobre os frios bancos de frias praças

Busco um capuccino amargo/uma dama de rodoviárias

Reinvento-me para além daqui.


Minha retina enxerga bichos sobre a mesa a espreitar um jovem de mãos atadas

E um mordomo afiado no fechar de lábios perpassa pratos e tristezas

Que universo é este?

Que mundo é este na profusão do silêncio?


O gosto de Heloísa ainda não sentido em bandejas salutares?

A mim não me parece verdade

Mas ainda assim faz-me molhar corpo e pensamento


As curvas retraídas da madona é o que tenho

Delícias
rejeitadas
são
o
que
busco


Desejo voltar.



Mas ainda há pássaros infelizes em São José de Ribamar

A menos que eu me venha em Bianas plácidas   

A menos que o pároco me conceda as honras dos filhos pródigos

Um repatriado de amores nesta missa à luz da escuridão?

Vem-me tudo em turbilhões de lamento

Maresias em convulsões mares revoltos soldados abandonados ao Caúra


Heloísa em seus arbustos ainda me quer um naufragado pescador?

Pergunto-me.

O amor vem em tigelas nas grelhas famintas nos rincões famigerados

Eu preciso voltar ao retorno necessário

Eu preciso voltar o quão breve
Ao pífio despertar da cidade dos santos
Ao
pífio
despertar
da
cidade
dos

santos

Eu 
perciso
voltar. 

 


 


 


 






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