quarta-feira, 20 de agosto de 2014
A repórter pergunta, o ministro gagueja
Por Luiz Cláudio Cunha
A mulher serena na frente do homem inquieto. A repórter experiente perante a autoridade calejada. A entrevistadora firme ante o ministro gelatinoso. A profissional de imprensa olho no olho com sua fonte. Uma brasileira, presa e torturada na ditadura, frente a frente com o ministro da Defesa que hoje comanda o Exército que ontem, na ditadura, prendeu e torturou a mulher, a repórter, a jornalista, a brasileira que o questionava (leia abaixo o depoimento inédito de Míriam Leitão sobre as torturas que sofreu).
Esse dramático confronto de 22 minutos brilhou na tela da TV numa noite
de quinta-feira, no final de junho passado, quando a jornalista Míriam
Leitão, 61 anos, fez para a GloboNews uma notável entrevista com o
ministro da Defesa, Celso Amorim, 72 anos. Viu-se então uma aula prática
do melhor jornalismo, confrontando a convicção com a dúvida, a energia
com a tibieza, o categórico com o evasivo, a verdade com a mentira. A
repórter se agigantando num diálogo em que o ministro se apequenava,
acuado, hesitante, gaguejante.
Míriam fez o que o resto da grande imprensa, acomodada e preguiçosa, não fez. Foi a Brasília ouvir o chefe civil dos militares, apenas nove dias após a entrega à Comissão Nacional da Verdade (CNV) de uma insossa, imprestável sindicância de quatro meses realizada pelos três comandantes das Forças Armadas (FFAA). Diante de questões objetivas com nomes, datas e locais de mortes e torturas apontadas pela CNV, os chefes da tropa responderam, num catatau de 455 páginas, que não registravam nenhum “desvio de finalidade” em sete centros militares do Exército, Marinha e Aeronáutica onde foram meticulosamente documentados casos de graves violações aos direitos humanos pelo regime militar de 1964-1985. Os oficiais-generais das três Armas simplesmente negaram a ocorrência de abusos até mesmo nos sangrentos DOI-CODI da Rua Tutoia, em São Paulo, e da Rua Barão de Mesquita, no Rio de Janeiro, onde a CNV já constatou pelo menos 81 mortes por tortura. Os comandantes esqueceram até dos 22 dias de suplício no DOI-CODI paulistano a que sobreviveu em 1970 uma guerrilheira chamada Dilma Rousseff, hoje casualmente presidente da República e, como tal, comandante-suprema dos generais que omitem a crua verdade sobre a ditadura das FFAA (ver “Quem mente? A presidente ou os generais?“).
Semblante sério, como recomendava o tema e exigia o embate, a jornalista entrou de sola na entrevista:
Por Luiz Cláudio Cunha
A mulher serena na frente do homem inquieto. A repórter experiente perante a autoridade calejada. A entrevistadora firme ante o ministro gelatinoso. A profissional de imprensa olho no olho com sua fonte. Uma brasileira, presa e torturada na ditadura, frente a frente com o ministro da Defesa que hoje comanda o Exército que ontem, na ditadura, prendeu e torturou a mulher, a repórter, a jornalista, a brasileira que o questionava (leia abaixo o depoimento inédito de Míriam Leitão sobre as torturas que sofreu).
Míriam fez o que o resto da grande imprensa, acomodada e preguiçosa, não fez. Foi a Brasília ouvir o chefe civil dos militares, apenas nove dias após a entrega à Comissão Nacional da Verdade (CNV) de uma insossa, imprestável sindicância de quatro meses realizada pelos três comandantes das Forças Armadas (FFAA). Diante de questões objetivas com nomes, datas e locais de mortes e torturas apontadas pela CNV, os chefes da tropa responderam, num catatau de 455 páginas, que não registravam nenhum “desvio de finalidade” em sete centros militares do Exército, Marinha e Aeronáutica onde foram meticulosamente documentados casos de graves violações aos direitos humanos pelo regime militar de 1964-1985. Os oficiais-generais das três Armas simplesmente negaram a ocorrência de abusos até mesmo nos sangrentos DOI-CODI da Rua Tutoia, em São Paulo, e da Rua Barão de Mesquita, no Rio de Janeiro, onde a CNV já constatou pelo menos 81 mortes por tortura. Os comandantes esqueceram até dos 22 dias de suplício no DOI-CODI paulistano a que sobreviveu em 1970 uma guerrilheira chamada Dilma Rousseff, hoje casualmente presidente da República e, como tal, comandante-suprema dos generais que omitem a crua verdade sobre a ditadura das FFAA (ver “Quem mente? A presidente ou os generais?“).
Semblante sério, como recomendava o tema e exigia o embate, a jornalista entrou de sola na entrevista:
Míriam– Ministro, os militares disseram que não houve desvio de função, mas a resposta causou perplexidade...
Amorim – [...] A CNV não perguntou se as pessoas foram
torturadas. Ela focaliza muito na destinação dos imóveis. Com esta
pergunta, a resposta também sinaliza uma resposta formal. Não houve, não
há registro formal de desvio de funcionalidade...
Míriam– A CNV fez as perguntas erradas?
Amorim – Ela não fez as perguntas que ela não
precisava fazer [...] As FFAA não negam, nem comentam. Elas não
contestam. Elas simplesmente não entram [no assunto]. Se um
estabelecimento, militar ou outro qualquer, é usado para tortura, isso
não é um ilícito administrativo. Isso é um crime [...] Especificamente
sobre as torturas, ela [CNV] não faz nenhuma pergunta, ela afirma. E as afirmações [da CNV] não são contestadas.
Míriam– Uma coisa é o DOI-CODI prender. Outra coisa é matar o preso.
Amorim – Isso é horrível. Não é um desvio de
finalidade, é um crime. [...] Se você disser que as respostas são
formais, eu concordo. Até acho que elas são formais. Elas não são
mentirosas, nem descumprem formalmente o que foi perguntado. Elas
decepcionam quem...
Míriam– ... elas omitem a questão
principal, ministro. As pessoas foram mortas dentro de instalações
militares, foram torturadas, e não foi para isso que se criaram essas
instalações. Elas existem para defender o Brasil, não para torturar e
matar brasileiros.
Amorim – Não há a menor dúvida. Tortura e morte é errado em qualquer lugar. Eu acho isso e a sociedade brasileira acha isso...
Míriam– Mas os seus comandados não acham.
Como ministro da Defesa, o sr. é o comandante dos comandantes
militares. O sr. não deveria levá-los a tomar uma decisão sobre isso? O
que eles fizeram nessa sindicância foi tergiversar sobre a questão
fundamental que se pergunta...
Amorim – Nós estamos completando uma transição, a
última etapa da transição é o relatório da CNV. A CNV vai produzir um
relatório final e todos terão que se posicionar diante dele. Quanto às
respostas em si à CNV, elas atendem ao que foi perguntado formalmente.
Não houve nenhuma pergunta, tipo “o sr. confirma que houve tortura e
morte?”. Até porque eu sei que a resposta aí seria: “Todos os documentos
da época [da ditadura] foram destruídos”.
Míriam– É o que eles dizem, aliás.
Amorim – Não houve nenhum esforço, nenhuma pretensão de negar os fatos...
Míriam– O jornalista Zuenir Ventura escreveu que, se [tortura e morte]não era desvio de função, então era norma. O que o sr. diz dessa conclusão?
Amorim – Acho que tortura e assassinato de uma pessoa
indefesa é algo indefensável. Se isso era norma explícita, eu não... eu
creio que não. Mas, implícita, talvez fosse. Infelizmente, era um
governo ditatorial. Ninguém vai discutir isso. Você sabe muito bem: eu
deixei meu cargo na Embrafilme porque autorizei a elaboração de um filme
pago pela empresa em que a OBAN era o tema central.
Leia a reportagem completa aqui: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed812_a_reporter_pergunta_o_ministro_gagueja
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